sábado, 6 de outubro de 2012

Tipos de Currículo





Currículo Prescrito ou Formal,  Real e Oculto



A educação atual passa por inúmeros entraves. Vários aspectos são pensados e analisados em prol da qualidade de ensino, porém o que se identifica como elemento chave nesta complexidade são as características curriculares e o seu funcionamento.

O currículo é um instrumento de função socializador, um elemento imprescindível à prática pedagógica, pois ele está estritamente ligado às variações dos conteúdos, a sociedade a profissionalização dos docentes.

A escola, não é apenas um espaço social emancipatório ou libertador, mas também é um cenário de socialização da mudança. Sendo um ambiente social, tem um duplo currículo, o explicito e o formal, o oculto e informal. A prática do currículo é geralmente acentuada na vida dos alunos estando associada às mensagens de natureza afetiva e às atitudes e valores. O Currículo educativo representa a composição dos conhecimentos e valores que caracterizam um processo social. Ele é proposto pelo trabalho pedagógico nas escolas.


1-  TIPOS DE CURRÍCULO:

O currículo prescrito ou formal que é aquele entendido como o conjunto de prescrições oriundas das diretrizes curriculares, produzidas tanto no âmbito nacional quanto nas secretarias e na própria escola e indicado nos documentos oficiais, nas propostas pedagógicas e nos regimentos escolares.

O currículo real que é a transposição pragmática do currículo formal, é a interpretação que professores e alunos constroem, conjuntamente, no exercício cotidiano de enfrentamento das dificuldades, sejam conceituais, materiais, de relação entre professor e alunos e entre os alunos. São as sínteses construídas por professores e alunos, a partir dos elementos do currículo formal e das experiências pessoais de cada um.

Conforme Moreira e Silva (1997, p. 28), o currículo é um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação e recriação e, sobretudo, de contestação de transgressões.”

Portanto, o currículo escolar oculto tem a ação direta e indireta na formação do individuo e é aquele que escapa das prescrições, sejam elas originárias do currículo prescrito ou do real. Diz respeito àquelas aprendizagens que fogem ao controle da própria escola e do professor e passam quase despercebidas, mas que têm uma força formadora muito intensa. São as relações de poder entre grupos diferenciados dentro da escola que produzem aceitação ou rejeição de certos comportamentos, em prejuízo de outros, são os comportamentos de discriminação dissimulada das diferenças e, até mesmo, a existência de uma profecia auto realizadora dos professores que classifica, de antemão, certos alunos como bons e outros como maus.

O currículo oculto também vai se manifestar, entre outras formas, na maneira como os funcionários tratam os alunos e seus pais, no modo de organização das salas de aula, no tipo de cartaz pendurado nas paredes, nas condições de higiene e conservação dos sanitários, no próprio espaço físico da escola.


2- VÍDEOS SOBRE CURRÍCULO










Intervenções Pedagógicas


Intervenções pedagógicas em dificuldades de aprendizagem


5 de outubro de 2012

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O Brasil entrou no século XX com quase 70% da população analfabeta. Até 1940, apenas 25% das crianças com idade entre cinco e quatorze anos estavam matriculadas em escolas. Muitas destas crianças ficaram sem educação porque, até o final do século XIX, quase não existiam escolas públicas. O ensino formal era dado em aulas avulsas, com único mestre-escola, sem planos, sem programas, sem prédios escolares, sem métodos pedagógicos ou sem material de ensino. 

As crianças que conseguiram serem alfabetizadas, em sua grande maioria, receberam suas lições em casa, de seus pais, parentes, ou através de preceptores contratados para esse fim. Os professores ficaram sem treinamento, ensinavam da forma que podiam e com o pouco que sabiam. A igreja no Brasil, ao contrário do que fez em outros países católicos, nunca desenvolveu escolas paroquianas. 

É cada vez mais presente, e de forma crescente, o número de alunos com dificuldades de aprendizagem. A maior frequência destas dificuldades está na aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. 


Também é comum professores despreparados e sem os conhecimentos necessários, que “diagnosticam” os alunos com dificuldades nestas habilidades errônea e preconceituosamente. 


Desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior as dificuldades na leitura é uma questão geradora de muitas preocupações, levando em consideração, principalmente, a concepção incorreta de que a leitura é apenas a decodificação de sons e símbolos. 


O processo da aprendizagem da leitura envolve habilidades que não podem ser atribuídas isoladamente. Trata-se das habilidades linguísticas, perceptivas, motoras e cognitivas. Portanto, a leitura é um processo que se atribui a decodificação e reprodução de sons e símbolos, mas também, e primordialmente, a compreensão do que se lê. Ou seja, requer a coordenação das diversificadas informações para a obtenção de seu significado.Tal processo envolve o reconhecimento da informação (reconhecimento visual ou tátil), onde a memória tem função fundamental. Como vimos em outros estudos/módulos, o aprendizado e a memória constroem e desenvolvem-se conjuntamente.


Além do reconhecimento da informação, o processo da leitura requer o armazenamento das palavras, suas letras, ortografias e significados (reconhecimento auditivo); o conhecimento da estrutura gramatical, necessária para uma leitura correta e, consequentemente o entendimento correto do que se lê; e, a compreensão do significado das palavras.

A compreensão do que se lê é o que efetiva a aprendizagem da leitura. Esta compreende capacidades como a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio, a motivação e o interesse. 


Concordamos veementemente com Johnson e Myklebust: “Uma incapacidade para ler não somente cria problemas para a aprendizagem escolar como limita a maturidade social, as relações sociais e a tomada de responsabilidades”. 


A influência e envolvimento dos pais é muito significativa no desempenho escolar de seu filho, e isso na prática se faz muito real e determinante. Portanto, o estímulo à participação dos pais na vida escolar de seus filhos deve ser praticado constantemente e insistentemente. Dizemos insistentemente por sabermos que qualquer estímulo aos pais de nossos alunos não é algo que é compreendido, a sua importância e contribuição, de imediato, na maioria das vezes é tratados por eles muito superficialmente, sem a devida importância. 


Dentre as dificuldades e suas respectivas características apresentadas pelo texto, a encontrada frequentemente, e com destaque em nossas salas de aula, foi à que trata da criatividade. Por isso, decidimos abordá-la, suas características e algumas das ações sugeridas, a fim de nos beneficiarmos estudando-as, experimentando-as e nos munirmos de novas ferramentas às buscas de soluções para algumas das dificuldades que encontramos no dia-a-dia de nosso ofício, e que acreditamos desencadearem a partir desta dificuldade. 


Estas sugestões são: criar na sala um ambiente acolhedor, o que nos remete à confirmação da importância da afetividade no processo de aprendizagem em âmbitos gerais. Outra sugestão é fazer com que a criança saiba que o professor está ciente de seu (s) problema (s) e de sua intenção em ajudar; ensinar a esquematizar seu material antes de escrever; e, a ação que entendemos como a que dá base. A dislexia é um distúrbio específico de leitura, onde há comprometimento neurológico, porém sem afetar a inteligência e a persistência da dificuldade mesmo com a tentativa de solucioná-la. 


Para um diagnóstico de dislexia ou outro distúrbio qualquer de aprendizagem, é necessário um trabalho com especialistas, completo e detalhado. Pré-diagnosticar e agir de acordo com tal pode desencadear problemas e dificuldades realmente sérias. 


O segundo grande foco de dificuldades de aprendizagem é a escrita. 


Esta habilidade requer desenvolvimento metal, motor, da linguagem e sócio afetivo. Além ser uma habilidade diretamente dependente da leitura. 


Aproximadamente aos seis anos de idade, a criança desenvolveu as discriminações visuais e auditivas para a leitura e para formar letras. Encontra-se pronta para iniciar o processo da escrita. 


É um processo que se desenvolve em situações correlacionadas com a idade da criança e variando de criança para criança. Para que esta habilidade se aperfeiçoe é preciso praticá-la e exercitá-la. 


Em relação à aprendizagem da escrita, o professor tem como tarefa a intervenção pedagógica, que consiste em acompanhar a execução de diferentes atividades, analisando o comportamento dos alunos durante as mesmas e interferindo adequadamente quando necessário. 


A disgrafia é uma classificação para se definir dificuldades na escrita, onde a criança não consegue transmitir as informações vi
Nosso terceiro foco preocupante que circunda bastante comumente muitas dificuldades em sua aprendizagem é a matemática. 


A matemática utiliza o que distingue o ser humano, isto é, sua capacidade de pensar, utilizando sua ação como instrumento. É o conhecimento construído em interações com as necessidades surgidas. 


A melhor forma de estimular o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático é colocando a criança em contato com objetos instigantes e orientá-la nas relações com e entre esses objetos. 


O diagnóstico de dificuldades na aprendizagem da matemática requer investigação de muitas outras habilidades e capacidades, visto que os graus dos distúrbios podem ser diversos.

A discalculia é uma dificuldade de aprendizagem, onde a criança não consegue aprender os processos da matemática, porém não há a constatação de lesão cerebral. Enquanto a acalculia é um transtorno após lesão cerebral, após já ter desenvolvido habilidades matemáticas.

Em suma, para levar os alunos à compreensão, à aprendizagem, precisamos pesquisar e experimentar sempre, e nos envolvermos em busca de formas eficazes e eficientes de ensino e de aprendizagem. 


A aprendizagem é um processo complexo e cheio de possibilidades e especificidades em qualquer âmbito. Por isso, conhecer e se aprofundar-se nessas especificidades é uma boa opção de caminho para encontrar possibilidades de solução. 


Enquanto os educadores não assumirem suas responsabilidades frente a essas dificuldades e se empenharem no árduo trabalho de superá-las e não perder nenhuma oportunidade de “trocar figurinhas” com os colegas a respeito delas e de suas experiências a partir delas, teremos essa “enxurrada” de laudos, que aliviam os acomodados e totalmente “esquecíveis” /esquecidos, e sobrecarregam e restringem os que acreditam verdadeiramente em seu trabalho e já se fazem inesquecíveis.


Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 900 cursos online com certificado 
http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/18367/intervencoes-pedagogicas-em-dificuldades-de-aprendizagem/pagina-4#ixzz28WynKHxXsuais ao sistema motor. 


     A Educação Inclusiva em Classes Comuns
                       Autora: Elizabeth Conceição De Almeida Alves





Resumo

Este artigo resulta da culminância de várias pesquisas bibliográficas onde buscou-se fazer a verificação do que é a educação inclusiva e quais são os benefícios que ela proporciona as pessoas com Necessidades Educacionais Especiais.

A inclusão escolar não é um processo rápido,automático e sim um processo gradativo, além de ser responsabilidade de toda sociedade, que deve sentir-se comprometida, viabilizando assim , a plena integração do indivíduo.

No entanto através da pesquisa constatou-se que para ser possível evidenciar-se a inclusão nas classes comuns é necessário um trabalho conjunto entre comunidade, escola, pais e a busca constante de transformar a mentalidade preconceituosa instalada na sociedade em que vivemos.

1- Introdução

Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como são. (...)”. Rubem Alves

Por muitos anos as pessoas com Necessidades Educativas Especiais (a partir de agora NEE) foram mantidas em completa exclusão social seja pela família ou pela própria sociedade. Essas pessoas sempre encontraram obstáculos para se sentirem ou estarem envolvidas no seu contexto social devido as dificuldades de aceitação dos que se distanciam dos padrões estabelecidos pela sociedade. No entanto, atualmente a educação vem rompendo barreiras, derrubando paradigmas e formulando novos conceitos sobre o que é educar e sua finalidade nesse contexto de exclusão. O movimento inclusivo já é real em algumas escolas onde as pessoas com NEE têm sido vistas como pessoas capazes de aprender desenvolver-se e serem úteis nessa sociedade.

Neste trabalho pretende-se dar ênfase a educação inclusiva e para melhor compreender a respeito da inclusão os dados obtidos através dessa pesquisa bibliográfica foram organizadas em duas categorias. Em primeiro lugar falarei sobre o conceito da educação inclusiva e em seguida sobre os benefícios que ela proporciona pessoas com NEE.

2 - Educação Inclusiva

A educação inclusiva é um conjunto de processos educacionais decorrente da execução de políticas articuladas impeditivas de qualquer forma de segregação e de isolamento. Estas políticas buscam alargar o acesso à escola regular, ampliar a participação e assegurar a permanência de TODOS OS ALUNOS nela, independentemente de suas particularidades. Sob o ponto de vista prático, a educação inclusiva garante a qualquer criança o acesso ao Ensino Fundamental, nível de ensino obrigatório a todo cidadão brasileiro. De acordo com Fonseca (2003, p. 104), “educar uma criança com necessidades educacionais especiais ao lado de crianças consideradas normais é um dos principais basilares da sociedade democrática e solidária”.

Na escola inclusiva o processo educativo é entendido como uma ação social em que todas as crianças com necessidades especiais e distúrbio de aprendizagem têm o direito à escolarização o mais próximo possível do normal. Este deve ser dosado de acordo com as necessidades dos educandos.

Mantoan (2003, p. 32) afirma que a escola inclusiva [...] provoca uma crise escolar, ou melhor, uma crise de identidade institucional, que, por sua vez, abala a identidade dos professores e faz com que seja ressignificada a identidade do aluno. O aluno da escola inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais.

Então a Educação Inclusiva exige atendimento de necessidades especiais, não apenas dos portadores de deficiência, mas de todas as crianças; implica em trabalhar com a diversidade de forma interativa – escola e setores especializados; requer que crianças portadoras de necessidades especiais saiam da exclusão e participem de classes comuns.

3 - Benefícios da Educação Inclusiva para pessoas com NEE em Classes Comuns

Comuns são as escolas que operam de acordo com as exigências da Constituição Federal e da legislação infra-constitucional e cuja autorização de funcionamento ocorre nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN e dos dispositivos complementares de cada sistema de ensino. As classes comuns, por outro lado, são uma forma de distribuição dos alunos adotadas pelas escolas comuns em função do nível de conhecimento destes. Na educação básica, as escolas e classes comuns são organizadas com regras comuns previstas no artigo 24 da LDBEN.

A inclusão dos alunos com NEE em classes comuns torna-se um grande benefício principalmente para os estudantes sem deficiência, pois a grande maioria descobre ser capaz de atos solidários e cooperativos desde cedo, tornando-se mais compreensivos, tolerantes e confiantes nas relações com os outros. As ofertas no atendimento na Classe Comum passam a abranger também a atuação de professor da educação especial, de professores intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis – Língua de Sinais, Sistema Braille, instrutores surdos e itinerância. Há também a oferta de atendimento na Sala de Recursos, na qual o professor da educação especial realiza a complementação e/ou suplementação curricular, utilizando equipamentos e materiais específicos. As escolas passam a fazer adequação física dos edifícios para receberem os alunos.

Pode-se dizer ainda que, a inclusão escolar é benéfica devido ao fato de a educação atender todas as pessoas, independente de suas habilidades e/ou dificuldades. E também por não esquecer o direito do cidadão. As escolas são construídas para promover educação para todos; portanto, todos têm direito de participar ativamente da sociedade da qual fazem parte. É direito de toda criança ter uma educação de qualidade em que suas necessidades possam ser atendidas possibilitando desenvolver seus lados cognitivos, emocionais e sociais. Mantoan (2003, p. 15) comenta:

A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidade de ensino, tipos de serviço, grades curriculares. Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam.

Conclusão

Com clareza podemos concluir que a Educação Inclusiva é um desafio constante para todos os profissionais da educação e para a sociedade em geral, pois a inclusão é um dos princípios fundamentais para a transformação humanizadora desta sociedade do terceiro milênio. Continuo acreditando em uma educação pautada na cooperação, na criatividade, na reflexão crítica, na solidariedade e preparada para atender a uma diversidade maior de alunos tendo que se adaptar a metodologias diferenciadas e na busca de reconhecimento do outro independente de suas condições sociais, intelectuais ou físicas.

Referências Bibliográficas

FONSECA, Vítor da. Tendências futuras da educação inclusiva. Educação, Porto Alegre, v. 49, p. 99-113, mar. 2003.

LDBEN, Lei Nº 9.394/2006 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Brasília, 2006.

MALUF, Angela Cristina Munhoz. Educação Inclusiva. Instituto Panamericano de Educação. Cuiabá, 2009.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

RONEY, Mario. Legislação e Políticas Públicas na Educação. Instituto Panamericano de Educação. Cuiabá, 2009.

Elizabeth Conceição De Almeida Alves - Habilitada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de Mato Grosso Pós Graduada em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Estrangeira. Em fase de conclusão a Pós Graduação em Educação Especial pelo Instituto Panamericano de Educação Assessoria e Consultoria Ltda. - Cuiabá-MT






A Importância da Pedagogia Progressista na Educação
Autores: Júlio César Lourenço e Verônica Yurika Mori


 



Resumo:

A busca por alternativas para o desafio de uma educação de qualidade tem sido atualmente tema de muitas pesquisas no âmbito educacional. A prática de propostas educacionais atuais destoa daquilo que habitualmente se refere como discurso de valorização para uma educação completa e crítica. Há uma necessidade de ampliarmos o debate sobre como dinamizar as potencialidades das instituições educacionais a fim de propor mudanças no sistema educacional que se encontra fragmentado e ineficaz. Nossa investigação tem o foco a reflexão sobre os objetivos educacionais da Pedagogia Progressista, refere-se às inquietações de Paulo Freire e outros autores que elaboraram propostas de ensino que podem se tornar parte da construção de uma educação com propósitos para uma formação mais completa aos estudantes brasileiros do ensino médio.

Introdução:

Este artigo traz algumas reflexões sobre os objetivos e metodologia da pedagogia progressista a fim de compreender sobre a superação da visão fragmentada e tecnicista do ensino. A consolidação da abordagem progressista é um desafio que deve ser transposto dia a dia. “A passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que vai crescendo, se construindo e se legitimando” (BEHRENS, 2005, p.26).

O foco das nossas análises está na compreensão dos objetivos e metodologia da proposta de Paulo Freire. Durante a nossa realização de estágio na disciplina de sociologia, no contexto do ensino médio, observamos a necessidade de um paradigma educacional que trouxesse significado para a aprendizagem, além da única preocupação em aprovação nos vestibulares. O texto refere-se a um problema que é a dificuldade de inserção da Pedagogia Progressista na atualidade do contexto do ensino. Para tal mediação, estabeleceram-se os seguintes procedimentos metodológicos: Compreender a base teórica e o conceito da visão progressista da educação, discutir sobre a relação professor-aluno na metodologia progressista e propor uma discussão sobre os valores e aspectos da prática pedagógica no ensino médio mediante tal proposta de educação.

A Pedagogia Progressista é no Brasil um paradigma educacional que propõe a transformação social por meio da educação. Tal proposta, sintetizando, tem como cerne a maneira como o indivíduo se propõe a explicar determinada realidade. Segundo Behrens (2005), atualmente existem três propostas inovadoras que conduz os alunos a dialogarem sobre as problemáticas de seu espaço social: o modelo sistêmico, o progressista e a pesquisa de campo.

Os pressupostos da pedagogia progressista caminham no sentido de propiciar que o aluno questione os conceitos transmitidos pelas instituições escolares. Essa problematização dos temas sociais é fundamental para uma profunda e real transformação da educação brasileira. Enfatiza-se que se quisermos que o país tenha uma educação de qualidade, cabe-nos a tarefa de reafirmar a escola como um espaço de acesso a cultura elaborada, espaço de produção cultural e intelectual.

No âmbito nacional, segundo Libâneo (1990) a metodologia progressista se manifestou por meio de três pedagogias: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire, a libertária, que reúne defensores da autogestão pedagógica e a crítico-social dos conteúdos, que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. O enfoque de nossas análises consiste na pedagogia de Paulo Freire, por ser considerada crítico-social, com influência transformadora na educação.

Os Pressupostos da Metodologia Progressista levam em consideração o indivíduo como ser que constrói a sua própria história. Consiste em desenvolver atividades de ensino, nas quais, o centro do processo não é o professor, mas o aluno que se torna sujeito de seu aprendizado. Os interesses, os temas e as problemáticas do cotidiano do aluno, nesta perspectiva, devem constituir os conteúdos do conhecimento escolar. O conhecimento deve ir além da definição, classificação, descrição e estabelecimento de correlações dos fenômenos da realidade social. Sendo assim, é uma das tarefas do educador explicitar as problemáticas sociais concretas e contextualizá-las, de modo a desmontar pré-noções e preconceitos que sempre dificultam o desenvolvimento da autonomia intelectual e de ações políticas direcionadas para uma transformação social. O ensino deve ser encaminhado de modo que a dialética dos fenômenos sociais seja explicada e entendida para além do senso comum, uma síntese que favoreça a leitura das sociedades à luz do conhecimento científico.

Sob essa perspectiva, o professor atua como educador e também sujeito do processo, estabelece uma relação horizontal com os alunos e busca no diálogo sua fonte empreendedora na produção do conhecimento. O professor assume o papel de mediador entre o saber elaborado e o conhecimento a ser produzido. É importante ensinar aos alunos que as estruturas de um determinado espaço social variam de uma sociedade para outra e numa mesma sociedade, pois ela reflete as condições econômicas, políticas, sociais e culturais das sociedades em um determinado contexto, e ela está sempre em construção, por isto o cenário ideal não existe em nenhuma parte do mundo (FREIRE, 2005).
Atualmente, como reflete Behrens (2005), o aluno adquire uma visão fragmentada não somente da realidade, mas de si mesmo, dos valores e dos seus sentimentos. A tendência acentuada nas escolas do ensino médio tem caminhado no sentido de serem cada vez mais tecnicista, com a finalidade única e específica de preparação para os exames e avaliações do sistema nacional, principalmente os vestibulares. Para Behrens:

A visão fragmentada levou os professores e os alunos a processos que se restringem à reprodução do conhecimento [...]. A ênfase do processo pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas repetitivas que muitas vezes, não apresentam sentido ou significado para quem as realiza (2005, p. 23).

Neste sentido Kuenzer (1999, p. 167) afirma que:

Essa pedagogia foi dando origem a propostas que ora se centraram nos conteúdos, ora nas atividades, sem nunca contemplar uma relação entre aluno e conhecimento que verdadeiramente integrasse conteúdo e método, de modo a propiciar o domínio intelectual das práticas sociais e produtivas. Em decorrência, a seleção e a organização dos conteúdos sempre tiveram por base uma concepção positivista de ciência, uma concepção de conhecimento rigorosamente formalizada, linear e fragmentada, em que a cada objeto correspondia uma especialidade, a qual, ao construir seu próprio campo, se automatizava, desvinculando-se das demais e perdendo também o vínculo com as relações sociais e produtivas.

Isto ocorre porque o modo de organização tecnicista exige uma escola que articule uma formação do aluno para o sistema produtivo. A sociedade capitalista com a emergência de uma realidade orientada por uma lógica de mercado, passaram à escola e ao trabalho, a se restringirem apenas às tarefas estanques, sem a consciência do processo social como um todo e do produto de suas ações. Em contraposição a isto, um dos pressupostos da Pedagogia Progressista é instigar uma busca pela reaproximação do todo, superando a fragmentação do ensino e a simples reprodução do conhecimento, uma ação pedagógica que leve à produção do conhecimento que busque a formação de um sujeito crítico e inovador. Para isso, o professor deve questionar e induzir seus alunos à crítica da realidade circundante abrindo espaço para a democratização do saber. Segundo Freire (1997, p.81): “Ensinar é a forma que toma o ato do conhecimento que o(a) professor(a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos o seu ato de conhecimento também”. Behrens (2005, p.74) complementa: “[...] é pela atuação do professor na prática cognoscente que os educandos vão se tornando sujeitos críticos”.

Paulo Freire (1992), em sua pedagogia libertadora, apresenta uma proposta de humanização do professor como norteador do processo socioeducativo, com o intuito de construir uma consciência crítica com relação à realidade social vivida, que está fundamentada em uma concepção de competição desmedida e desigual que refletem sob todas as camadas sociais, mas, sobretudo, com as de baixa renda.

Freire (1992) constrói seu pensamento em favor de uma sociedade mais justa e igualitária, de uma formação crítica e consciente aos estudantes. Em relação a isto, é interessante observar a forma como ele constrói e articula suas ideias, nos perguntamos sobre o que está sendo lido e simultaneamente nos questionamos com a realidade vivida. Consegue condensar de forma simples e permeada de significados vários sentimentos de estranhamento que se encontram nas mais diversas instituições de ensino, o autor enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa, sem a qual a teoria pode se tornar apenas discurso e a prática uma reprodução alienada, sem questionamentos. Sob esse viés, a teoria deve ser adequada à prática cotidiana do professor, que passa a ser um modelo influenciador de seus educandos. A prática da crítica deve estar ao lado da valorização das emoções.

O professor, para Freire (1997, p.15-18) deve ensinar a “pensar certo”, sendo a prática educativa em si um testemunho rigoroso. Para Freire (1997, p.34), faz parte do pensar certo a "[...] disponibilidade ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um critério para a recusa do velho", estando presente a rejeição a qualquer forma de discriminação. Destaca a importância de propiciar condições aos educandos, em suas socializações com os outros e com o professor, de testar a experiência de assumir-se como um ser histórico e social, que pensa, que critica, que opina, que dialoga. Para isso, exige-se a necessidade dos educadores criarem condições para a construção do conhecimento pelos educandos como parte de um processo em que o professor e o aluno não se reduzam à condição de objeto um do outro, porque ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção (FREIRE, 1997).

Nesse sentido, problematizar a realidade social vivida, por essência, é uma forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição e decisão, por vezes, até uma ruptura com o passado e o presente. Em uma análise sociológica, o homem não pode apenas tentar se pôr no lugar daquele que está falando e deste modo pensar e ver toda a complexidade do espaço social a partir apenas deste ponto de vista. Não basta conhecer os fatos sociais formalmente, é preciso entender as relações que regem determinada conjuntura, devemos ir para além das aparências.

Freire (1997) ressalta o quanto um determinado gesto do educador pode repercutir na vida de um aluno (afetividade e postura) e da necessidade de reflexão sobre o assunto, pois para o autor, ensinar exige respeito aos saberes do educando. A construção de um conhecimento em parceria com o educando depende da relevância que o educador dá ao contexto social. O professor mais do que aquele que ensina é uma referência aos alunos, por isto, ensinar e orientar são ideais que devem caminhar juntos na profissão. Sendo assim, não somente as palavras utilizadas, mas também suas condutas têm influência direta e indireta na relação estabelecida com seus alunos. Nas salas de aula são transmitido mais do que palavras: são transmitidos valores e conteúdos que vão além do conhecimento mensurável.

Freire (1997) defende a necessidade de conhecimento e afetividade por parte do educador para que este tenha liberdade, autoridade e competência no decorrer de sua prática docente, acredita que a disciplina verdadeira não está no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, o que implicaria na autoridade verdadeiramente democrática. Na visão de Freire (1997), o educador deve exercer sua autoridade e sua liberdade. Liberdade esta que deve ser vivida em sua totalidade com a autoridade em uma relação dialética, centrada em experiências estimuladoras de decisão e responsabilidade.

Freire (1997) salienta que a educação tem a política como uma característica inerente à sua natureza pedagógica, e alerta para a necessidade de nos precavermos dos discursos ideológicos, dos quais a educação também faz parte, pois ameaçam confundir a curiosidade, além de distorcer e fragmentar a leitura e interpretação dos fatos e acontecimentos. Isso não significa que o educador deva apresentar postura neutra, pois é um ser histórico, político, pensante, crítico e emotivo.

Um dos impulsos mais frequentes da prática social é a naturalização. No meio social existe uma grande tendência de apresentarem os fatos sociais como eternos, imutáveis, distantes e obrigatórios, que ofuscam a capacidade de refletir, de acreditar na mudança. Também como resultado desse processo, tem-se o quadro da educação brasileira expresso de contradições e exclusões. O capitalismo leva a sociedade a um consumismo para muito além das necessidades e a uma alienação coletiva, ou seja, nos afasta daquilo que nos faz humanos.

O fracasso educacional deve-se a um conjunto de contradições dentre os quais, em particular, caminha para técnicas de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto social e econômico do aluno, mantendo-se o status quo, haja vista que a escola ainda é um dos mais importantes aparelhos ideológicos do Estado, e esse papel vem sendo muito bem desenvolvido, tendo em vista que formamos indivíduos “acríticos” ao sistema vigente, pois muito do que os indivíduos e as coletividades pensam, sentem, imaginam ou fazem relaciona-se direta e indiretamente com a lógica do modo de produção capitalista desenvolvida em âmbito local, nacional, regional e mundial. Como já apontava Marx; Engels (1989), que os homens são produzidos, envoltos pelo modo de produção capitalista. Portanto, para Marx e Engels (1989, p. 37) “[...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser social; mas o seu ser social é que determina sua consciência”.

Como eixo norteador de sua prática pedagógica, Freire (1992, p.38), defende que "formar" é muito mais que formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de formação ética dos educadores, conscientizando-os sobre a importância de estimular os educandos a uma reflexão crítica da realidade vivida.
Destaca-se que na Pedagogia Progressista as temáticas de estudo são escolhidas basicamente em duas fontes. Na Sociologia, por exemplo, uma primeira fonte é o cotidiano dos alunos e suas problemáticas: violência, educação, mercado de trabalho, etc. Outra fonte é constituída pelas temáticas que interessam aos estudantes tais como: indústria cultural, diferenças raciais, consumismo, entre outros. Para isso, o professor deve atuar como mediador. A Pedagogia Progressista dá primazia aos conteúdos, mas não se resume a eles. É o seu ponto de partida, é de onde se definem os seus métodos. Sua metodologia é concebida a partir da teoria do conhecimento marxista, pela dialética materialista, pelo movimento de continuidade e ruptura. Parte-se da necessidade e aspirações dos alunos, de sua realidade, para então realizar as rupturas, sair do imediato e chegar ao teórico, ao abstrato; e depois retornar ao real com uma nova visão que possibilita uma nova ação sobre ele.

A pesquisa é geradora de questões novas e um tema bem elaborado contribuirá significativamente para que os alunos se defrontem com os conhecimentos científicos como instrumentos culturais para entendimento da realidade, relacionando a teoria sociológica com o cotidiano. É sempre importante analisar práticas pedagógicas tradicionais e alternativas debater sobre os limites e as possibilidades.

A colaboração entre educador e estudante em um sistema aberto e colaborativo em um esforço de construção coletiva, coordenada e continuada tem como finalidade o aprimoramento do ensino e a valorização da construção dos saberes coletivos, objetivado pela possibilidade de interação e compartilhar informações (BEHRENS, 2005).
Para um professor realizar o trabalho dentro de uma sala de aula, ele precisa possuir o conhecimento sobre o tema a ser trabalhado, selecionar bibliografias, preparar antecipadamente as aulas e pensar método de ensino a ser aplicado. É fundamental a adoção de múltiplos instrumentos metodológicos, os quais devem adequar-se aos objetivos pretendidos, seja a exposição, a leitura e esclarecimento do significado dos conceitos e da lógica dos textos, a análise, a discussão, a pesquisa de campo e bibliografia ou outros. É importante que o professor não leve ao aluno uma interpretação fechada, e sim, os relatos, os dados pertinentes para o conhecimento.

Os temas estão inseridos na realidade das pessoas, são oriundos de debates sociais. Fazemos parte da história local, nacional e universal. O homem é estabelecido na relação social, o conhecimento do aluno é uma vantagem, porém ele é limitado. A sociedade não se opõe ao indivíduo, pelo contrário, ela existe subjetivamente no indivíduo, os próprios professores constantemente reproduzem e reafirmam os preconceitos e estereótipos sobre a sua profissão e atuação, reproduzem uma realidade que aparentemente se nega (FREIRE, 1981, p. 15-25).
Ao pensar especificamente nos alunos, muitas vezes esses veem de famílias carentes e não possuem um referencial na família a respeito de uma sólida educação, o que não quer em nenhum momento dizer que eles não tenham potencial, pelo contrário, muitas vezes precisam apenas de oportunidades, que lhes são geralmente negadas. É evidente que nestes locais surgem alunos que conseguem vencer nos vestibulares, porém este número é muito inferior ao que se pode considerar como um índice satisfatório. Aliado a isto, as escolas são permeadas de medidas burocráticas de todo o tipo, que inviabilizam uma alternativa ao ensino tecnicista, ou a busca de novos métodos.

O pensamento de que as aulas tradicionais são tediosas e desnecessárias, se faz presente entre a maioria dos alunos. O imediatismo presente no pensamento da maioria é visivelmente exposto. Certa vez no nosso período de estágio num colégio estadual da região central de Maringá/PR, em determinada aula expositiva, uma professora propôs um trabalho sobre orientação vocacional, um aluno a questiona sobre o porquê do trabalho se o vestibular já havia passado. Outra preocupação é de que o professor focalize somente o vestibular deixando de lado reflexões sobre o espaço social vivido, mas se alunos e professores não parecem estar preocupados nem com o vestibular, é possível supor que estas discussões são ainda mais marginalizadas nas salas de aula.
Sendo assim, ao pensar na realidade dos alunos, para eles, diante do peso que é o vestibular, é mais importante uma matéria que seja recorrente e caia nos exames, do que mais uma nova experiência de ensino que pode dar certo ou não.

Porém, as instituições de ensino brasileiras não devem cair na armadilha de pautar o vestibular como única referência de qualidade e eficiência em educação. O ensino não deve ser pensado como mercadoria, serviço ou sinônimo de status.

Octávio Ianni (1985) estabelece que o problema preliminar que se coloca no trabalho do professor é procurar mobilizar o conhecimento que o aluno já dispõe, e, ao mesmo tempo, procurar levá-lo a novos horizontes. Seria uma ingenuidade acreditar que os alunos não sabem nada sobre a realidade a qual pertence. Os meios de comunicação informam as pessoas dos mais variados temas, apesar de muitas vezes reproduzirem o conhecimento do senso comum. Além disso, os temas trabalhados pelos sociólogos muitas vezes fazem parte do universo cotidiano de todos. O professor deve trabalhar fatos, dados e relações, sem por em questão autoridades como famílias, crenças e religiões. Segundo Ianni (1985) “Precisa trabalhar a partir do conteúdo da matéria e não colocar em questão essas autoridades, porque isso seria evidentemente uma tarefa muito desigual e não é aí que está o problema”.

Conclusões:

Como constatado, é desanimador o quadro atual da educação brasileira. A profissão do professor está sendo bastante menosprezada no país. Mas é preciso continuar na luta pedagógica. Como futuros sociólogos apontamos que um primeiro passo é problematizar os fatos sociais, pois a partir do momento que refletimos e dialogamos sobre eles, muitas das dificuldades enfrentadas na educação, podem sair do plano da constatação. Se nos calarmos, se pararmos de reivindicar, perderemos mesmo o pouco reconhecimento que a educação ainda possui. Por isso temos que ampliar a discussão para que a educação tenha maior espaço e melhores condições dentro da sociedade brasileira.

O homem não está alheio ao seu tempo histórico, o agente não constrói individualmente a si mesmo, por isso devemos produzir uma reflexão da realidade como um todo. Neste contexto em que o ideário neoliberal incorpora, dentre outras, a categoria de autonomia, é preciso também atentar para a força de seu discurso ideológico e para as inversões que podem operar no pensamento e na prática social ao estimular o individualismo e a competição. Sendo assim, para propor mudanças é preciso uma prática de vigilância constante e contínua contra toda e qualquer prática de desumanização. Não é possível ao sujeito ético viver sem estar permanentemente exposto a transgressão da ética, temos então de aprender a fazer uma autorreflexão crítica permanente. Como pondera Freire (2000, p. 23): “A Histórica é um tempo de possibilidades e não de determinação”.

Ensinar requer a plena convicção de que a transformação é possível porque a história deve ser encarada como uma possibilidade e não como um determinismo moldado, pronto e inalterável. Para isso é preciso desnaturalizar, tornar evidente as contradições e fazer este exercício de estranhamento é um dado decisivo no processo de conhecimento de nossa própria cultura. O educador não pode ver a prática educativa como algo sem importância, ao contrário, ele deve sempre perseguir um constante processo de reafirmação dos valores da educação. O educador não deve barrar a curiosidade do aluno, pois é de fundamental relevância o incentivo à sua imaginação, intuição, senso investigativo, enfim, sua capacidade de ir além. Conhecimento é poder, poder de questionar os discursos dominantes.

As tendências pedagógicas não são inatas, são oriundos de conflitos e debates, das contradições sociais, são originadas num determinado momento histórico, tendo que durante a sua trajetória aperfeiçoá-las ou mesmo substituí-las, são as relações sociais que constituem o ser social em qualquer contexto. A estrutura social está sempre em movimento, que se desdobra e se especifica, se revela em relações, processos e estruturas. A sociedade não está dada e pronta e definitiva. Para alguns interessa que ela se mantenha como está, para outros, há o desejo que ela se modifique. Nas palavras de Bourdieu (1997, p. 20): “Apenas conhecendo as leis específicas do campo é que podemos compreender as mudanças nas relações entre os agentes”.

É necessário reduzir a distância entre o que se diz e o que se faz de forma que a fala seja o reflexo da prática, enfatizamos que as teorias são importantes, no entanto cabe ao professor construir sua didática, embasado nelas, lembrando que elas são elementos norteadores e não "receitas" prontas. Freire (1997) nos provoca continuamente a sermos coerentes em nossas atitudes.

A leitura de Freire (1997) nos inspira na busca de uma educação pautada no respeito humano que na partilha de saberes possa construir novas idéias, ampliar e refutar saberes antigos. Deve-se enxergar em meio às contradições de um sistema de ensino desigual e injusto, alternativas para a superação, pois assim, criaremos condições de emancipação. Não existe uma solução única e simples para resolver os problemas educacionais. Faz-se necessário problematizar nossas questões no sentido de não esconder ou camuflar as diferenças, de não aceitar o consolo da falsa consciência. Deve-se procurar o conhecimento sobre a experiência concreta do vivido, nas práticas culturais de determinada sociedade; na formalização dessa prática em produtos simbólicos; nas estruturas sociais que influenciam a foram de ser da educação.

A prática educativa é um constante exercício em favor da construção e do desenvolvimento da autonomia de professores e alunos, não obstante transmitindo saberes, mas debatendo significados, construindo e redescobrindo os mesmos, pois temos a necessidade de aprender e também de ensinar, intervir e conhecer. Construir uma nova sociedade pode ser também construir novas relações e consciências.

Referências:

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BEHRENS, M. A. O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2005.
BOURDIEU, P. Pierre Bourdieu. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1983.
__________, P. Os usos sociais da ciência: Por uma sociologia clínica do campo cientifico. São Paulo: Unesp, 1997.
FREIRE, P. Educação e Mudança. 4ºed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
_________. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
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_________. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Unesp, 2000.
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IANNI, O. O Ensino das Ciências Sociais no 1º e 2º Graus. [S.l.: s.n], 1985.
KUENZER, A. Z. As políticas de formação: A constituição da identidade do professor sobrante. Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, dez, 1999.
LIBÂNEO, J. C. Democratização da Escola Pública. São Paulo : Loyola, 1990.
MARK, K. E ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1989.

Júlio César Lourenço e Verônica Yurika Mori - Júlio César Lourenço (UEM) e Verônica Yurika Mori (UEM) são acadêmicos do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá – PR. 

Ms. Jani Alves da Silva (UEM) é Professora Assistente da Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Teoria e Prática da Educação.